domingo, 16 de setembro de 2018

Museu Nacional: o incêndio







Museu Nacional: o incêndio
       
Estávamos comemorando seu bicentenário. O Museu Nacional acabara de completar 200 anos de sua fundação em julho deste ano. O mais antigo Museu brasileiro ganhou de presente um incêndio de proporções inestimáveis, ao invés de ganhar reparos antes que fosse tarde demais.

Vi uma notícia imediata que o final dizia: "as causas do incêndio são desconhecidas e ainda serão investigadas", pois se deveria saber que as dependências internas já se encontravam em condições deploráveis,  pouco atrativas ao público, especialmente as salas de pesquisa que não são abertas ao público estavam visivelmente caindo aos pedaços. 
O Museu Nacional foi mais uma vítima do descuido com a cultura, da verba mal aplicada, que podemos exemplificar de duas maneiras: com altos investimentos naquele tipo de atração que é o famoso ‘pão e circo’ para alienar a população do conhecimento, da história, da ciência; e com a corrupção. As leis no nosso país são tão bonitas e boas, pena que não são bem executadas.
Alguns o chamam de Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, outros, de Museu Nacional da UFRJ, outros, apenas de Museu Nacional. A pergunta é: Qual parcela da população realmente teve a oportunidade de conhecer seu acervo? Sem falar a parte que não estava exposta...  Ou qual parcela teve a oportunidade e faltou a vontade de conhecer? O que vai sobrar? Tarde demais... triste realidade! Ele era o 5º maior museu de antropologia do mundo, com um acervo significativo, não só do Brasil ou da América, mas da humanidade. Falta a verdadeira ação nesse sentido partindo da gente, os brasileiros, duas semanas já se passaram e nada foi feito para tentar recuperar alguma coisa nos escombros.
Não estou chorando qualquer perda material. O museu continha um patrimônio geral de 20 milhões de peças, bens de diversas áreas de interesse: história, culturas, arte, antropologia, paleontologia, biologia, ciência, arquivologia... A extinção de um museu significa uma grande perda não só pelo seu acervo material, mas porque essa materialidade está ligada à simbologia do nosso povo, à formação da nossa cultura. Todo patrimônio material só tem valor por seu aspecto imaterial que está embutido nele.
Ouso dizer que perdemos o Louvre brasileiro devido ao "tanto faz", à ignorância e à corrupção. Todos conhecemos aquela frase desdenhosa "quem vive de passado é museu".  Pelo contrário, o museu protege o passado para que façamos o futuro melhor. Pesquisadores faziam diversas pesquisas que foram perdidas junto com os objetos em si. Você quer uma boa razão para gostar de museu? Estamos vivendo essa realidade triste no Brasil, que é até difícil de acreditar, por causa da nossa história cultural. A mobilização foi grande, graças às redes sociais, principalmente, onde as pessoas podem expressar a tristeza e o choque sem necessidade da mídia. Algumas imagens abaixo mostram a opinião da população, especialmente de professores e pesquisadores de diferentes áreas nas redes sociais.
Outras instituições públicas de arte, ciência, cultura e pesquisa passaram por incêndios desastrosos nas últimas décadas: MAM Rio de Janeiro 1978, Instituto Butantan São Paulo 2010, Museu da Língua Portuguesa São Paulo 2015. Isso não pode ser aceitável, é clara a falta de interesse público, de fiscalização, de obras, e não é de hoje, muita coisa precisa ser repensada nas políticas culturais brasileiras.
A gente só dá valor quando perde. Isso não é normal. Que esta inestimável perda sirva de lição para evitar outros casos semelhantes no nosso país. O mundo chorou o incêndio do Museu Nacional, e prometeu colaborar para sua reconstrução, apesar de que essa reconstrução jamais recupera o que se perde. Que a gente, então construa uma nova história para o nosso país a partir do momento presente, uma história mais participativa e feliz. Que a gente não tenha medo de agir agora, nem preguiça da burocracia, que a gente comece com um ato simples, que a gente faça nossa história coletiva com mais amor e esperança para ter resultados a longo prazo. Ou então vamos virar ruínas de Brasil. Quem sabe um dia essas ruínas serão respeitadas...

Meu nome é Rosamarina, sou uma estudante, recém-formada em História da Arte, escrevi esta publicação para manifestar minha tristeza diante do incêndio do Museu Nacional na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e para evitar que esse fato caia no esquecimento.