Um resumo da história dos Balés Românticos
O
romantismo surge no balé francês em 1832, um pouco depois que nas outras
artes.[...]
O
romantismo Foi anunciado por J.-J. Rousseau e triunfou com Chateaubriand no
início do século XIX, na medida em que é culto do indivíduo, na medida em que o
indivíduo se
torna tema da arte. [...] a sensibilidade tem primazia sobre a
razão; o coração e a imaginação assumem o poder, sem o controle dos sentimentos
e de sua expressão.
O
balé também vai se tornar a expressão de sentimentos pessoais, sob uma
forma que será diferente dos gestos rigidamente codificados há um século e
meio.
[...]
Os
românticos também têm a sensação de uma libertação. A arte é conquistada pelos
“grandes princípios” de 1789: liberdade, igualdade; cada artista tem o direito
de se exprimir sem restrições.
Mas,
se a revolução romântica podia gozar desses novos direitos no campo da
literatura e das artes plásticas, porque estas atingiam o grande público, o
mesmo não acontecia com a dança. A Ópera detinha o monopólio do balé [...].
Devia, portanto, procurar o sucesso junto ao público, sendo que este continuava
a ser recrutado na classe rica, conservadora [...].
A técnica romântica: o estilo da alma
Entre
1810 e 1830 [...] pouco a pouco começava-se a buscar a expressividade, a poesia
do corpo, a fluidez dos gestos, por exemplo no porte de braços (port de bras). Encontramos a exposição
mais completa da técnica neste início de século nas obras de Carlo Blasis,
italiano formado na escola francesa. A comparação de seu Tratado elementar teórico e prático da arte da dança,1820, do Código de Terpsícore, 1828, redigido na
Inglaterra e por ele ditado , traduzido e revisado em 1830 sob o título de Manual completo de dança, 1840, permitem
seguir a libertação do movimento, seu alívio, que será arrematado pela invenção
do arabesque.
Uma
grande novidade caracteriza a técnica romântica: o uso das pontas.
Os
artigos dos críticos provam que a dançarina Geneviève Gosselin as praticava
desde 1813.[...] Como Gosselin morreu prematuramente, o emprego da ponta só
volta a ser mencionado por volta de 1820, em Viena, com Amelia Brugnoli, mais
uma aluna de Coulon.[...]
O
que é certo é que uma jovem dançarina italiana contratada pela Ópera de Paris, Marie Taglioni,
fez dela a característica de um intermédio que prefigurou o balé romântico: o Ballet des nonnes, na ópera de
Meyerbeer, Robert le Diable, em 1831.
O “Balé
das freiras”
[...]
O Diretor da Ópera, Duponchel, mandou montar o cenário de um cemitério
abandonado, num claustro em ruínas, um quadro já romântico. Os fantasmas das
freiras, vítimas do mal do amor, saíam de seus túmulos para seduzir o herói.
Marie Taglioni era sua abadessa. Os críticos da época descrevem-na dançando na
ponta, mal roçando o solo, como um ser imaterial, num estilo “todo poesia e
leveza, graça e suavidade”, que encantava Théophile Gautier e que produzia um
“efeito milagroso”. O sentido da dança tinha mudado: a virtuosidade era
substituída pela expressão, a técnica pelo estilo.
“A sílfide” ou La Silfide
Coreógrafo:
Filippo Taglioni
Música:
Schneitzhoeffer
Mas
foi realmente A sílfide que, a 18 de março de 1832,
marcou o nascimento do balé romântico.
[...]
Já temos aqui um dos temas típicos da coreografia romântica: um mortal amado
por um espírito. O primeiro ato se desenvolve num contexto
terrestre, o segundo no domínio irreal dos espíritos. O traje dos espíritos,
uma túnica semilonga de musselina, fez com que fosse chamado o “ato branco”.
[...] Gautier escreveu ”Este novo gênero trouxe um abuso de gaze branca, de
tule e de tarlatana, as sombras se vaporizavam por meio de saias transparentes.
O branco era quase a única cor adotada”.
Tentando
exprimir o irreal, o balé romântico era feito para a leveza da bailarina. O dançarino foi
relegado a um segundo plano. [...]
Mas
esta opção teria uma consequência funesta: as dançarinas estrelas, reinando de
forma absoluta, exigiram que os balés fossem compostos apenas para que elas
pudessem mostrar suas qualidades. Pouco importava que as variações que impunham
destruíssem a organização da obra, obliterassem seu sentido, pouco lhes
importava que a ação fosse poética ou estúpida; para elas o balé era feito para
a estrela e não o contrário. Esta foi uma das razões que provocaram a rápida
degeneração do balé romântico; também foi uma das desvantagens que sofreu seu
herdeiro, o balé acadêmico.
Giselle
Música: Adolphe
Adam com uma valsa de Burgmuller
Coreógrafos:
Jean Coralli e Jules Perrot.
[...]
Foi preciso aguardar o ano de 1841 para que um poeta, Theóphile Gautier [...]
escrevesse para a bailarina que amava, Carlotta Grisi, a obra-prima do balé romântico, Giselle.
[...]
Giselle
saiu do repertório da Ópera em 1868; o balé só foi remontado em 1924, a partir
da versão russa. [...] A partir da versão de Titus, modificada por Fanny
Elsser,
Marius Petipa montou três reprises, uma diferente da outra, em 1884, 1887 e
1899. É mais ou menos neste estado que Giselle
é apresentada hoje em dia pela Ópera de Paris. [...]
Se
acrescentarmos que Petipa reescreveu-a em seu próprio estilo, podemos perceber
que a Giselle de hoje é bem diferente
da original, e que seu estilo é mais acadêmico do que romântico.
[...]
O
sucesso do balé foi tão grande que Giselle
se tornou um apelo publicitário: uma modista parisiense lançou uma flor
artificial batizada com seu nome. [...]
Bibliografia:
Livro: BOURCIER, Paul. História da dança no Ocidente. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Adorei saber mais sobre os balés românticos.Giselle é o meu balé preferido, sempre que assisto me emociono.Espero logo poder assitir novamente.
ResponderExcluirqual são todos os Ballets romântico???
ResponderExcluirEssa é uma pergunta muito diícil de ser respondida. A lista seria imensa porque o modo de coreograar vai se transformando e se atualizando à medida que o tempo passa. Posso te dizer, sem dúvida, que Giselle, La Sylphide e o Ballet das Freiras são característicos do estilo romântico, por serem os primeiros. Em seguida, muitos outros ballets foram sendo criados como A Bela Adormecida, O lago dos Cisnes, La Bayadère, O corsário, A filha do faraó, que ainda possuem muitos elementos românticos. Mas há controvérsia em afirmá-los como ballets românticos. Porque, por vezes, apenas alguns elementos permaneceram, como o amor platônico, a figura da bailarina idealizada, o herói. O cenário e o figurino podem ser considerados românticos apenas em parte dos ballets, normalmente, no segundo ato. Espero ter respondido!
ExcluirRosamarina, parabéns. O resumo do período romântico está muito bem explanado e pesquisado. Um abraço.
ResponderExcluirEliana Caminada
Obrigada Eliana! Que bom que gostou!
ResponderExcluirgostaria de saber alguns nomes de lista de Ballet romântico
ResponderExcluirOi Marta! Dentre os ballets de repertório clássico que ainda são remontados pelas grandes companhias, aqueles que podem ser considerados com tema romântico são La Sylphide, Giselle, La bayadère, Le Corsaire, Cinderella, Swan Lake, The Pharaoh’s daughter, La esmeralda, Sleeping Beauty, Raymonda, porque pregam a magia e a delicadeza. Uma das características essenciais do pensamento romântico também foi a busca de culturas consideradas exóticas, como o mundo árabe e o egito, que são cenários de The Pharaoh’s daughter e de La bayarère e a recuperação de contos populares como Cinderella e Sleeping Beauty. A idealização do amor, a elevação do espírito, a divisão entre Vivos X Espíritos, a mulher idealizada são características mantidas em alguns desses. No entanto, algumas características que foram essenciais nos primeiros ballets românticos vão se perdendo com o passar do tempo, como o tutu romântico, que tem saia longa, não é mais usado em Le corsaire, Swan Lake e La esmeralda, sendo substituido por tutu bandeja ou túnica e o ato branco ligado aos espíritos também parou de ser uma obrigação.
ExcluirLa fille mal gardée, Coppelia, podem ser considerados ballets cômicos, pensando numa classificação como se dá nas óperas, porque contam histórias que nos fazem rir do início ao fim, mas também contam com a presença do camponês idealizado e do amor entre um jovem casal.
algumas caracteristicas na dança no realismo?
ResponderExcluiralgumas caracteristicas na dança no realismo?
ResponderExcluirParabéns! Super completo! Adorei! Vou compartilhar!
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