Leo, lembranças
Era 24 de
dezembro de 2006 quando ele nasceu para nós. Já tinha escurecido e chovia
torrencialmente. Há algumas horas ninguém se atrevia a sair de casa, a família
estava reunida para a ceia de Natal, mas, como toda chuva de verão, um hora ela
pára, e então, alguém ouviu um barulho alto, como de um bebê chorando. Saímos
para o pátio pela porta da cozinha e o quê nós encontramos? Um gatinho todo molhado
roncando incessantemente, provavelmente doente e cheio de fome. Ele era do
tamanho de um rato (dos grandes) e seu miado era desesperado e agudo. Abraçamos
o filhote, é claro. O pelo do pequenino era amarelo escuro, quase laranja,
parecia um leãozinho e ele mesmo, em poucos dias escolheu (e me informou
através de seu miado) seu nome: Leo. Ele conquistou a todos rapidamente, menos
nosso gato mais velho e cheio de si, que deve ter ficado com ciúmes.
Leo cresceu
ocupando um espaço na nossa casa e nos nossos corações que nenhum dos outros
ainda havia conquistado, mesmo amando todos eles. Nosso micro-leão sempre foi
extremamente educado, não roubava comida, mais caseiro que os outros gatos que
havíamos adotado (apesar de darmos liberdade a todos para sair), queria brincar
com tudo, como todo filhote, inclusive com o rabo do gato mais velho, que o
rejeitava solenemente. Eu ficava um pouco triste com a relação de ciúmes do
nosso outro gato, mas, este, logo foi chamado para a morada eterna dos bichos.
O novo gatinho
começou a ter suas manias com o tempo, como só beber água no box do banheiro. E
continuou roncando sem parar, adora colo e carinho na cabeça e no pescoço. Eu,
com 12 anos achava que o “ronron” era um tipo de bronquite por causa da chuva
que ele tinha pegado no dia em que chegou. O Leo passou por todas as fases da
vida se tornando um gato cada vez mais bonito, ele começou a sair para interagir
com os gatos e as gatas da vizinhança na “adolescência” e provavelmente deixou
sua prole. Mas ele gostava mesmo era da minha gata de pelúcia cor-de-rosa que
miava ao apertar, hahaha...
Em 2010 o Leo
viveu uma viagem memorável de mudança de cidade (730km) e teve dificuldades de
adaptação no apartamento. Sua vida passou a ser de prisioneiro e ele passou a necessitar
marcar seu novo território em todos os cantos dali, além de se exercitar em um
espaço bem restrito. Nós penamos com a fase estressadíssima do gatinho, mas
conseguimos, depois de alguns anos, mudar para outro apartamento com pátio,
onde ele voltou a poder sair, recuperando sua saúde emocional.
A partir desse
momento eu vivi alguns anos longe de casa, ele continuou fazendo companhia para
meus pais como um filho (para mami) e um grande amigo (para o papi), sempre
parceiro na hora do almoço e de assistir televisão. Em 2016, quando eu ainda
estava mais longe, o Leo começou a ficar recluso, sumido, escondido, quieto,
magro e deprimido. Depois de muitos exames, descobrimos que era FELV, uma
doença que não tem cura, apenas tratamento e que exige isolamento de outros
gatos.
Eu voltei pra
casa e, mais ou menos nesse período começou a terceira idade do gatinho. Aos 10
anos de idade ele começou a ser tratado com ômega 3, vitaminas e corticoides.
Ele é muito guerreiro, reagiu extremamente bem, dando um pouco mais de trabalho
que antes, exigindo cuidados especiais, sendo mais seletivo com a ração e as
comidas, mas nunca deixou de ser caçador de insetos, ratos e passarinhos. Nesta fase ele continuou lindo e passou a ser muito fotogênico.
Normalmente
quando se descobre a FELV o gato não suporta mais que um ano e meio de vida,
mas a dedicação dos meus pais e nosso amor permitiram que ele ficasse conosco
por bastante tempo. Em 2018 ele passou por uma cirurgia de retirada de alguns
dentes que estavam inflamados e passou a comer só ração macia e, em seguida
contraiu um tumor maligno na língua e garganta, que restringiu ainda mais sua
alimentação.
De fato, os
gatos devem ter sete vidas, porque eu vejo o quanto este gatinho sofreu em situações
da nossa vida, como a mudança e suas enfermidades. Deve ser verdade também que
ele absorve e expulsa os sentimentos negativos das pessoas, assim como também
conhece seu posto de príncipe e exige respeito. Além de guerreiro, o Leo foi
forte e teve uma missão na nossa casa. Tantos momentos vão ficar na minha
memória, como nossos longos papos por telepatia na hora do apoio emocional e da
massagem para ele comer a ração, também quanto aos visitantes da casa, como sua
reação inicial de ciúme ao meu namorado e aprovação com aceitação em seguida,
além dos tantos fatos já relatados aqui, e outras histórias. Sua hora chegou,
aos 12 anos e 11 meses conosco (provavelmente 13 anos de vida). Acabou o
sofrimento de não conseguir comer e se limpar e, ele vai encontrar a liberdade
que tanto gosta na morada eterna dos bichos.
Texto e fotos: Rosamarina Quadros