Museu Nacional: o incêndio
Estávamos comemorando seu bicentenário. O
Museu Nacional acabara de completar 200 anos de sua fundação em julho deste
ano. O mais antigo Museu brasileiro ganhou de presente um incêndio de
proporções inestimáveis, ao invés de ganhar reparos antes que fosse tarde
demais.
Vi uma notícia imediata que o final dizia:
"as causas do incêndio são desconhecidas e ainda serão investigadas",
pois se deveria saber que as dependências internas já se encontravam em
condições deploráveis, pouco atrativas ao público, especialmente as
salas de pesquisa que não são abertas ao público estavam visivelmente caindo
aos pedaços.
O Museu Nacional foi mais uma vítima do
descuido com a cultura, da verba mal aplicada, que podemos exemplificar de duas
maneiras: com altos investimentos naquele tipo de atração que é o famoso ‘pão e circo’ para
alienar a população do conhecimento, da história, da ciência; e com a
corrupção. As leis no nosso país são tão bonitas e boas, pena que não são bem
executadas.
Alguns o chamam de Museu Nacional da Quinta
da Boa Vista, outros, de Museu Nacional da UFRJ, outros, apenas de Museu
Nacional. A pergunta é: Qual parcela da população realmente teve a oportunidade
de conhecer seu acervo? Sem falar a parte que não estava exposta... Ou
qual parcela teve a oportunidade e faltou a vontade de conhecer? O que vai
sobrar? Tarde demais... triste realidade! Ele era o 5º maior museu de
antropologia do mundo, com um acervo significativo, não só do Brasil ou da
América, mas da humanidade. Falta a verdadeira ação nesse sentido partindo da
gente, os brasileiros, duas semanas já se passaram e nada foi feito para tentar
recuperar alguma coisa nos escombros.
Não estou chorando qualquer perda
material. O museu continha um patrimônio geral de 20 milhões de peças, bens de
diversas áreas de interesse: história, culturas, arte, antropologia,
paleontologia, biologia, ciência, arquivologia... A extinção de um museu
significa uma grande perda não só pelo seu acervo
material, mas porque essa materialidade está ligada à simbologia do nosso povo,
à formação da nossa cultura. Todo patrimônio material só tem valor por seu
aspecto imaterial que está embutido nele.
Ouso dizer que perdemos o Louvre
brasileiro devido ao "tanto faz", à ignorância e à corrupção. Todos
conhecemos aquela frase desdenhosa "quem vive de passado é museu". Pelo
contrário, o museu protege o passado para que façamos o futuro melhor.
Pesquisadores faziam diversas pesquisas que foram perdidas junto com os objetos
em si. Você quer uma boa razão para gostar de museu? Estamos vivendo essa realidade
triste no Brasil, que é até difícil de acreditar, por causa da nossa história
cultural. A mobilização foi grande, graças às redes sociais, principalmente,
onde as pessoas podem expressar a tristeza e o choque sem necessidade da mídia.
Algumas imagens abaixo mostram a opinião da população, especialmente de
professores e pesquisadores de diferentes áreas nas redes sociais.
Outras instituições públicas de arte,
ciência, cultura e pesquisa passaram por incêndios desastrosos nas últimas
décadas: MAM Rio de Janeiro 1978, Instituto Butantan São Paulo 2010, Museu da
Língua Portuguesa São Paulo 2015. Isso não pode ser aceitável, é clara a falta
de interesse público, de fiscalização, de obras, e não é de hoje, muita coisa
precisa ser repensada nas políticas culturais brasileiras.
A gente só dá valor quando perde. Isso não
é normal. Que esta inestimável perda sirva de lição para evitar outros casos
semelhantes no nosso país. O mundo chorou o incêndio do Museu Nacional, e
prometeu colaborar para sua reconstrução, apesar de que essa reconstrução
jamais recupera o que se perde. Que a gente, então construa uma nova história
para o nosso país a partir do momento presente, uma história mais participativa
e feliz. Que a gente não tenha medo de agir agora, nem preguiça da burocracia,
que a gente comece com um ato simples, que a gente faça nossa história coletiva
com mais amor e esperança para ter resultados a longo prazo. Ou então vamos
virar ruínas de Brasil. Quem sabe um dia essas ruínas serão respeitadas...
Meu nome é Rosamarina, sou uma estudante, recém-formada em
História da Arte, escrevi esta publicação para manifestar minha tristeza diante
do incêndio do Museu Nacional na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e para
evitar que esse fato caia no esquecimento.