“O último suspiro” é um trabalho
realizado pelo artista, amigo e colega Diego Holanda, atual estudante de artes
visuais na UERJ. A animação foi inspirada no quadro impressionista “O Rio Sena na Ponte de Léna” de Paul
Gauguin.
Em 2013, a
composição musical e balé A Sagração da Primavera completou um centenário de
existência. Várias companhias de música e dança remontaram o espetáculo em
comemoração. Por isso, aqui vai um texto que conta um pouco da sua história e
características.
A Sagração da Primavera, do
compositor russo Igor Stravinsky, subverte a estética musical do século XX,
dando origem ao Modernismo. A célebre composição musical deste irreverente
artista do século passado é hoje considerada um símbolo da musicalidade
erudita, mas na época causou polêmica ao embalar o balé em dois atos criado
pelo não menos rebelde Vaslav Nijinsky, coreógrafo também originário da Rússia.
Este espetáculo narra a
trajetória de uma garota marcada para ser entregue como oblação à divindade
primaveril, no auge de um ritual pagão, com o objetivo de conquistar para
seu povo uma colheita proveitosa. Seu cenário foi arquitetado pelo artista
plástico e arqueologista Nicholas Roerich, e a estréia se deu em pleno Théâtre
des Champs-Élysées, na capital francesa, no dia 29 de maio de 1913.
Esta obra revolucionou
praticamente todas as principais características da música de então, ou seja, o
arcabouço do ritmo, a estrutura orquestral, o timbre, a forma, os aspectos
harmônicos, a maneira como se utilizavam as dissonâncias, e o valor conferido à
percussão, a qual sobrelevava a própria melodia, algo impraticável até este
momento.
Não foi casualmente que
esta peça escandalizou a sociedade da França em sua estréia. O público não
sabia como assimilar tantas mudanças e subversões, não estava preparado para
recepcionar positivamente esta nova estética. A proposta coreográfica também
foi rejeitada, por seu caráter primitivista, pelo resgate da ancestral arte
rupestre.
Sobraram vaias para todos
os lados, e o caos se instaurou na platéia. Diversos músicos e maestros se
retiraram do teatro logo no começo da representação, revoltados com a nova
abordagem dos instrumentos. Atualmente a história de sua polêmica apresentação
talvez seja mais conhecida que a obra em si.
O espetáculo é
estruturalmente dividido em duas partes essenciais: a adoração da terra e o
sacrifício. A orquestra é composta por 8 trompas entre 38 instrumentos de
sopro. Tudo tem início com a execução de compassos de fagote, seguidos pelo
princípio de uma musicalidade lituana, por um andamento sem nenhuma simetria e
repleto de padrões complexos, e por um timbre raro nos instrumentos.
Ainda hoje sua natureza
subversiva desnorteia o público, por seu teor provocativo e incivilizado. No palco
desfilam cenas ancestrais e excêntricas, despertando em quem as assiste emoções
aflitivas. Músicas de natureza folclórica distorcidas, uma feroz estruturação
de ritmos totalmente independentes, harmonias politonais desagradáveis aos
ouvidos, a rejeição drástica das frases longas, a transferência constante dos
acentos rítmicos, a inebriante criação de novos timbres, são características
que contribuem para o desconcerto do público. Mas também são aspectos que
transformam A Sagração da Primavera em uma completa detonação de energia e
vida.
A linguagem de Stravinsky
centra-se principalmente no ritmo, totalmente destacado em sua estética, o
núcleo essencial de sua obra. Ela também é caracterizada pela carência de foco
e pelo declínio da narrativa, como já se prenunciava na literatura e na
pintura. Da mesma forma que nestas esferas da criação, observa-se na Sagração
da Primavera a renúncia ao universo da lógica e da objetividade, um reflexo do
mundo moderno.