O período de transferência
da arte classicista para romântica.
No fim do
século XVIII intelectuais, primeiramente os alemães, começaram a se interessar
pela cultura popular. Foi nessa época que surgiram termos como folk (povo). Havia o burburinho de que a
cultura popular estava em desaparecimento e, por isso, foi descoberta bem a
tempo, antes que caísse no completo esquecimento. Ainda não tinha acontecido a
Revolução Industrial na Alemanha e em outros países, mas o crescimento das
cidades e a alfabetização já provocavam uma transformação social visível.
Já no início do século XIX a canção popular
passou a ser vista como patrimônio. Era algo de autoria coletiva, como as
coisas da natureza. Cultura não era mais privilégio de uns poucos indivíduos
refinados.
Outras manifestações
culturais populares também passaram a ser elegantes, como os contos. Vários
volumes de contos foram publicados na Alemanha antes da famosa coletânea dos
irmãos Grimm. A tendência se espalhou pela Europa.
A descoberta
da cultura popular teve impacto nas artes. Compositores e pintores passaram a
se inspirar na arte popular. O interesse só não foi maior em objetos artesanais
porque sua existência não estava ameaçada. A produção em massa ainda não
acontecia em toda a Europa. Religiões e festas populares também fizeram parte
da chamada “descoberta do povo”. Alguns nobres passaram até a participar dessas
festas.
As razões para o movimento ter acontecido
especificamente nesse período são estéticas, intelectuais e políticas.
A razão estética se refere ao artificialismo e
à frivolidade da arte do período, o Classicismo. Agora o que os artistas
queriam era o simples, o arcaico, o selvagem, o ingênuo.
A razão intelectual está ligada ao Iluminismo.
As novas ideias são contra o elitismo e contra a ênfase na razão. Vê-se pelo
respeito à religião popular.
A razão política também está relacionada ao
Iluminismo, mais especificamente às questões nacionalistas. O que há de
interessante em Herder e nos irmãos Grimm é que eles vêm no povo o espírito da
nação. França, Itália e Inglaterra estavam muito ligadas às ideias iluministas
e classicistas. Por essa razão, alemães e espanhois viam na cultura do povo uma
fuga da influência estrangeira. Nessa onda, suecos, finlandeses, russos,
gregos, poloneses, austríacos, belgas, holandeses escoceses e sérvios também
buscaram suas identidades nacionais.
Os países com maiores tendências iluministas
também acabaram fazendo pesquisas a respeito do seu povo. Porém, tardiamente e
nem sempre com simpatia.
A herança que temos da cultura popular da idade
moderna também contém interpretações errôneas e equivocadas. Sabemos que os
antiquários eram poetas e os poetas, antiquários. Poetas tendem a criar. Foi o
que fizeram em cima dos contos e canções populares ao traduzi-las para a língua
oficial. A própria tradução naturalmente exige algumas mudanças de sentido,
conceitos que fazem sentido para um grupo não fazem para outro. A criatividade
e vaidade dos editores aumentou a disparidade entre o original e os contos e
canções divulgados. Igrejas e festas também sofreram transformações.
Segundo Peter Burke, outra herança falha que
temos é a falta de distinção entre o “primitivo e o medieval, o urbano e o
rural e o camponês do conjunto da nação”.
Herder, os Grimm e seus seguidores afirmavam
firmemente três hipóteses sobre a cultura popular. Primeiro, o primitivismo:
uma permanência inalterada das tradições por milhares de anos; segundo, o
comunitarismo: a predominância da comunidade versus indivíduo; terceiro, o purismo: a relação direta do povo com
a natureza.
Esses pontos são questionados, principalmente
porque é perfeitamente natural que ocorram modificações influenciadas pelas
relações que existem e sempre existiram entre classes e povos diferentes.
Notas
- A cultura popular
nesse contexto inclui as manifestações de toda a não elite como artesãos,
camponeses, marinheiros, mendigos, mulheres e crianças. Peter Burke se
baseia mais nos estudos de folcloristas e antropólogos do que em
historiadores de cultura, que focalizam na cultura elitista.
- O termo “cultura”
era visto como arte, literatura e música. Hoje, são considerados todos os
costumes de uma sociedade. O livro fonte de pesquisa se detém a visão mais
restrita do termo.
Fonte de pesquisa
Texto: “Cultura popular na idade moderna. Europa,
1500-1800”. Peter Burke.